terça-feira, 5 de outubro de 2010

"O que já era difícil e desafiante ficou muito mais com a troca de percurso." - Berreta

Conheci o Berreta no 300 de Caxias no ano passado. Aliás, chegamos praticamente juntos. À época estava comboiando o "Zezo Velhão" até o final da prova, em um trecho com muitas descidas e inúmeros falsos planos em descida após o presídio de São Fracisco de Paula, quando os "pesadões catarinas" passaram "voando" pelo Berreta. Restou a ele ficar de roda e "nos comer" nas subidas finais antes de Fazenda Souza. Empatia desde o começo, já no brevet seguinte éramos os "Catarinas" e o Berreta e o Rafael os "Milicos". Berreta costuma vir pra cá e passar por "poucas e boas": ano passado, pneu rasgado e derrubado por um carro; este ano raio quebrado logo "de prima". Seus brevets por nossas estradas costumam ser "de superação". Talvez por isso que ele goste tanto de vir aqui se testar. Vejamos seu relato:

Saí sozinho de POA na sexta a tarde, pois os meus amigos de pedal: Ricardo, Rafael, Sandra, Claúdio e Saul, não puderam vir por motivos diversos, mas sei que estavam comigo naquelas subidas sem fim e descidas congelantes.

Até o PC 1 - KM 66

Antes da largada é sempre aquela apreensão. Então, o que vestir? Esfriara bastante a noite, foi necessário sair com pernitos e manguitos. Até o PC 1 pedalei junto do Udo e do Guilherme aqui do RS, muitas subidas que esquentavam e descidas congelantes. Nestes primeiros km o percurso é quase todo urbano, com muita iluminação. Felizmente pouco movimento de automóveis (ano passado foi uma loucura). Lá pelo km 45 arrebentou um raio da minha roda traseira, a roda ficou descentrada, soltei os freios e vamos em frente. O problema é que não dava para aproveitar as descidas, pois a bike depois dos 40 km/h começava a “balançar” a traseira. Neste percurso pedalei mais lento, com média próxima aos 20 km/h, pois a noite tudo fica mais complicado, devido a baixa visibilidade. No Pc 1 foi servida uma excelente e quente torrada, que deu uma reanimada geral.

Do PC 1 Orleans ao PC 2 Santa Rosa de Lima. KM125

Já na saida deste PC subimos uma rampa de 5 km. Saí sozinho deste PC, também, tive que parar varias vezes para prender o raio solto, que pegava no câmbio traseiro. Em 2009 este percurso ia até Tubarão passando por Gravatal, trecho muito perigoso, devido aos bailões e motoristas bêbados. Neste ano, através da excelente iniciativa dos organizadores, foi substituído pelas cidades de Rio Fortuna e Santa Rosa de Lima. Somente com um porém: o percurso do ano passado era quase plano, e este novo é quase outra Serra do Rio do Rastro, com subidas intermináveis. Passando por Rio Fortuna, ladeira abaixo, na escuridão total juntamente com outro ciclista, fomos atacados por uma matilha de cães. Quanto mais eu pedalava, mais perto o cachorro chegava, isto a 40 km/h (fica como sugestão fazer um antidoping nestes cães). O ciclista que estava comigo passou por cima de um cachorro e felizmente devido a sua habilidade de randonneur, não caiu.
Logo depois dos cães, passou um gato preto pela frente, para mim é sorte, pois adoro os bichanos, temos três em casa.
Chegamos no PC2 por volta das 05:00 horas, congelados, e para alegria tinha uma sopa “energética” quente, acompanhada de pão e uma rosca daquelas que só existem nas cidades do interior. Foi a salvação deu uma acordada geral, vida nova.

Do PC 2 Santa Rosa de Lima ao PC 3 Serra do Rio do Rastro KM 211.

Este era o percurso mais longo e ao final teríamos que enfrentar a bela e temida Serra do Rio do Rastro. Depois da sopa mágica, esperei o dia clarear, e segui a jornada de volta, agora felizmente descendo um pouco mais. Estava sozinho e preocupado com os cães na volta, pois agora seria na subida, porém antes da subida encontrei o gato preto morto atropelado no meio da pista, acredito ser o mesmo da vinda pois o local era o mesmo. Parei e tirei ele do asfalto, colocando-o no mato, para que os carros não passassem mais por cima dele, (lembrei do meu amigo Sérgio que sempre faz isso). Depois deste momento nenhum cachorro me atacou durante o restante do brevet. Até chegar em Orleans dei uma acelerada, pois queria terminar com um tempo mais baixo que no ano anterior, uma das coisas mais cativantes nestes tipos de prova é que só precisamos vencer o tempo limite estabelecido. Para mim eu sempre coloco um desafio pessoal de melhorar o meu próprio tempo. De Orleans a Lauro Muller o percurso vai se tornando cada vez mais acidentado. Em Lauro Muller, antes da subida da serra, parei numa lanchonete e reabasteci o corpo com dois sandubas, um copo de café, e mais o tão falado suco de laranja Macrovita.
Descansei uns 20 minutos e iniciei o trecho mais difícil.
As subidas são como o vento contra, se você se acomodar e não enfrentar é pior, pois não terminam nunca, e o desgaste no final é o mesmo ou ainda maior. Encarei a serra até o PC de volta, girando sempre e mantendo uma média de 15 km/h, com uma relação compacta de 34x27, cheguei lá em cima “rapidamente” dadas as circunstânscias. Lá estava o Maico, com mais um PC bem abastecido, um super sanduíche, melancia e um suco de uva natural.

PC 3 Santa Rosa de Lima ao PC 4 Morro da fumaça KM271.

A descida da serra foi tranquila, só tendo que cuidar o excesso de velocidade, pois só estava com o freio da frente, devido a quebra do “raio” da roda traseira. Até Orleans tudo relativamente bem, o problema é que as dificuldades não terminaram por aí, até Urussanga tem subidas sem fim ......... mas enfim ......... Depois de Urussanga o percurso fica mais plano, mas aí surgiu um “vento contra” até o PC no Posto Bergmann. Uns 10 km após o PC o vento ficou a favor, até a chegada, "ufa"!, nem tudo poderia ser dificuldade. Cheguei as 15h50min da tarde de sábado, uma hora a menos que no ano passado.

Filosofando:

A gente pedala e pedala, com muito tempo para “filosofar”. Neste brevet, depois de tantas subidas sem fim, descobri uma máxima que todo o randonneur de verdade deve interiorizar, não importa a distância ou grau de dificuldade do percurso:

Quando você estiver no limite da “fadiga” , o cansaço físico e psicológico será sempre maior se você optar por descer da bicicleta e descansar.

Resumindo o brevet:
Organização 100 %.

Apoio da Policía Rodoviaria Estadual 100 %
Alimentação 110 %

Altimetria 95 % não plano

Atenção e preocupação com os ciclistas 100 %

Curiosidade - Em várias cidades tinha a loja Ciclo Center. De bikes? Não, de móveis.

Valeu Maico e toda a equipe, parabéns pela organização e coragem em fazer frente a
uma prova com enorme complexidade e dificuldade em todos os sentidos. E também parabéns a todos os ciclistas que concluíram ou não.
Ano que vem estarei aí de novo no 300, no 200 se mudar o percurso de Criciúma até Bom Jardim da Serra.


Berreta é casca grossa! Berreta é do Carvão! Berreta, grande abraço e nós é quem agradecemos!!

Obs.: conselho de amigo randoneiro, pois vi que tua roda é shimano. Livre-se dela. A Shimano sabe fazer câmbios de bicicletas e molinetes para pesca. Ainda não aprendeu a fazer rodas.

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